Em 1995, Etkowitz e Leydesdorff propuseram um modelo que viria a se tornar a referência para discussão global sobre os processos de inovação. Os autores criaram uma explicação original para a interação entre governo, academia e indústria, simulada por um modelo de três hélices em interação (TriX), da mesma forma que a dupla hélice do DNA interage para criar, manter e evoluir a vida.
A primeira versão deste modelo era estrutural, se concentrando nos papéis de cada uma das “hélices”, definindo o papel de cada uma das instituições no arranjo; já a segunda explorava os processos de comunicação entre as entidades e com os ecossistemas de conhecimento ao redor e a terceira, enfim, tratava as organizações híbridas que se desenvolveram com a participação de mais de uma das hélices.
A abordagem da Hélice Tríplice, desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, é baseada na perspectiva da Universidade como indutora das relações com as Empresas (setor produtivo de bens e serviços) e o Governo (setor regulador e fomentador da atividade econômica), visando à produção de novos conhecimentos, a inovação tecnológica e ao desenvolvimento econômico. A inovação é compreendida como resultante de um processo complexo e dinâmico de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, nas empresas e nos governos, em uma espiral de “transições sem fim”.
O argumento tem base na revisão da relação entre a Universidade e a Sociedade na qual uma segunda revolução acadêmica vem ocorrendo e a Universidade incorpora uma terceira missão, além do ensino e da pesquisa, que é ser um ator ativo do desenvolvimento econômico via geração de conhecimento científico e tecnológico e, conseqüente, inovação. Os grupos de pesquisa atuam como quase-firmas e interagem com os atores das demais esferas ou hélices. Como conseqüência emerge uma Universidade Empreendedora na qual o relacionamento entre as hélices assume diferentes configurações. Elementos e organizações de intermediação são estruturadas como as firmas spin-off, incubadoras e parques tecnológicos; escritórios de propriedade intelectual e comercialização de tecnologia; redes de conhecimento; arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais (APLs e ASPILs); e universidades corporativas entre outros.
A abordagem considera a interação entre organizações dessas três hélices como uma forma de identificação e tratamento dos problemas surgidos da profunda mudança no mundo econômico, institucional e intelectual decorrentes de uma sociedade organizada em conhecimento. Tais interações concorrem em diversos níveis e acarretam: 1) transformações internas em cada esfera; 2) influências das organizações de uma esfera sobre a outra em decorrência dos relacionamentos existentes; 3) criação de novas estruturas devido à sobreposição ocasionada pela interação das três hélices; e 4) um efeito recursivo desses três níveis. As redes de relacionamento criam subdinâmicas de intenções, estratégias e projetos que adicionam um valor excedente, ao se organizarem e se harmonizarem, continuamente, junto à infra-estrutura existente de forma a atingirem suas metas. Cada ator de uma esfera mantém considerável autonomia, mas simultaneamente assume novos papéis e uma nova compreensão e conformação da dinâmica econômica.
A abordagem da Hélice Tríplice foi desenvolvida como um conceito ex-post, refletindo a realidade dos países desenvolvidos onde a inovação tem sido associada com setores baseados em atividades de P&D. Na medida em que o papel do conhecimento codificado na inovação tem aumentado de importância, universidades de pesquisa passam a desempenhar uma função fundamental neste processo. A realidade dos países em desenvolvimento e a brasileira, em particular, é muito diferente. As transformações produzidas no cenário econômico mundial colocaram estes países diante do desafio de fazer convergir esforços para melhorar seus sistemas produtivos e estruturar sistemas inovativos através da geração, acumulação e aplicação de conhecimentos e, adicionalmente, obterem as vantagens comparativas necessárias para a sua integração com sucesso no mercado internacional de bens e serviços. Neste contexto, a metáfora da Hélice Tríplice é útil como uma moldura analítica para a compreensão dos processos de inovação e a proposição e implementação de políticas públicas, especialmente de ciência, tecnologia e inovação que visem ampliar e suportar a interação entre os atores das diferentes hélices.
A Triple Helix vem sendo difundida no Brasil pelos pesquisadores integrantes deste grupo desde 1999 com a organização do Workshop Rio Triple Helix (1999), da Rio 2000 – Third International Triple Helix Conference (2000), da execução de diversos estudos e projetos de pesquisa e da ampla interação com os pares internacionais envolvidos com esta temática.
Há vários estudos de como vem ocorrendo as melhores práticas sobre a utilização da Tripla hélice caba aqui abaixo essa reflexão com suas referências introdutórias:
O desenvolvimento econômico de regiões e países está cada vez mais atrelado à valorização das atividades de ciência e tecnologia (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 2010), uma vez que na sociedade do conhecimento, a inovação tecnológica exerce papel decisivo na busca e sustentação de vantagens competitivas de empresas e setores econômicos (CHAIA e SHIHB, 2016). Assim, empreendedorismo e inovação são temas cada vez mais estratégicos (BARR, BAKER, et al., 2009) haja vista que a dinâmica de inovação tecnológica (SENGE e GORAN CARSTEDT, 2001) está atrelada a processos sistêmicos de geração e transferência do conhecimento, associados à interação universidade-empresa-governo (ETZKOWITZ, 2009).
As experiências internacionais bem-sucedidas demonstram que a promoção do
desenvolvimento sustentável depende fortemente de esforços coordenados dos diversos atores envolvidos no processo de inovação (ETZKOWITZ, 2003a). Nesse contexto, a abordagem proposta pelo modelo conhecido como Hélice Tríplice (ETZKOWITZ e LEYDESDORFF, 2000) é internacionalmente aceita como a mais completa e atual, sendo uma referência conceitual obrigatória, seja nas aplicações práticas dos princípios propostos seja nas reflexões críticas sobre o tema. As universidades empreendedoras (ETZKOWITZ, 2003b) têm um papel chave na Hélice Tríplice.
Os trabalhos mais recentes sobre a Hélice Tríplice têm focado no estudo das organizações intermediárias (BELLGARDT, GOHLKE, et al., 2014), que podem ser entendidas como uma organização híbrida (ETZKOWITZ, 2003a), formada endogenamente pela sobreposição institucional entre as três esferas da Hélice Tríplice, influenciando fortemente a relaçãouniversidade-empresa-governo (JOHNSON, 2008). As organizações intermediárias podem ser fundações, associações, consórcios, centros de pesquisa e parques científicos e tecnológicos, com características únicas e, portanto, devem ser exploradas de forma independente(METCALFE, 2010).
As organizações intermediárias ou ambientes de inovação conhecidos como parques
científicos, ou ainda, parques científicos ou parques universitários, representam um fenômeno mundial (SIEGEL, WESTHEAD e WRIGHT, 2003b). São vistos como agentes de promoção do desenvolvimento científico e tecnológico (LINK, 2014) e onsequentemente do desenvolvimento econômico e social (JONGWANICH, KOHPAIBOON e YANG, 2014).
Diante desse quadro, a questão que se apresenta é como planejar, implantar e operar parques tecnológicos para que estes sejam empreendimentos de sucesso, promotores do desenvolvimento?
Assim a gestão de parques tecnológicos à luz dos conceitos da Hélice Tríplice, que
considere as relações de causa e efeito entre os principais fatores de sucesso e as condições de contorno que irão influenciar seu desempenho.
O próximo conteúdo falará sobre a quintupla hélice e o ecossistema empreendedor.
Venha pra Zion Aceleradora e Gestora de negócios.
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